A Igreja Adventista do Sétimo Dia completou 160 anos em 2023. Embora o movimento Adventista Sabatista tenha como sua data fundante o dia 22 de outubro de 1844, foi somente em 21 de maio de 1863 que essa denominação cristã foi organizada, na pequena cidade de Battle Creek, no estado norte americano do Michigan. Nessa ocasião, 20 delegados representando as seis associações estaduais que existiam, constituíram a Associação Geral[1], que passou a ser o órgão máximo entre os adventistas. Inicialmente houve muita oposição a organização, que foi superada paulatinamente. Passados mais de um século e meio desse processo, quais foram as principais vantagens da organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Este estudo introdutório enumera cinco delas.
Refinamento teológico
Embora as principais doutrinas dos Adventistas do Sétimo Dia foram adotadas na década de 1840, a organização da Igreja contribuiu com o aperfeiçoamento, a expansão e refinamento da teologia adventista. Segundo Alberto Tim “as doutrinas distintivas adventistas sabatistas” (a segunda vinda literal de Cristo, Seu ministério sacerdotal em duas fases no santuário celestial, a imortalidade condicional da alma, a perpetuidade da Lei de Deus e do sábado e o dom profético de Ellen G. White) “foram definidas durante o período de 1844-1847”.[2] Fundamental para isso foi o papel dos primeiros líderes e os primeiros grupos de estudo da Bíblia.[3]
Após 1863, com o estabelecimento da Associação Geral e suas assembleias, as discussões teológicas passaram a ocorrer também nesses fóruns, que envolviam os principais pensadores adventistas e os representantes do campo missionário. Como exemplo da contribuição da organização para o refinamento teológico, podem ser citados a Assembleia da Associação Geral de 1888, com sua ênfase na justificação pela fé; a declaração de crenças fundamentais, adotada na Assembleia de 1980 e a ampliação das crenças fundamentais em 2005, com a crença fundamental “Crescimento em Cristo”. George R. Knight esclarece que os adventistas sempre mantiveram uma visão “dinâmica da verdade” e o papel da Igreja organizada, muitas vezes, ajudou a evitar certos movimentos problemáticos, ao manter a posição de que “a Bíblia é nosso único credo”[4].
Com a criação do Seminário Adventista do Sétimo Dia (1934) e especialmente do Instituto de Pesquisas Bíblicas (1975) houve uma contínua análise da verdade presente, embora a descoberta das verdades bíblicas não possa ser atribuída a uma organização. Cremos que Deus guiou os pioneiros no estudo exclusivo da Bíblia como regra de fé e sua única intérprete. A estrutura, ambiente e financiamentos providos pela organização adventista, porém, acabaram contribuindo nesse sentido. [5]
Expansão missionária
Após a organização da Associação Geral (em 1863), a Igreja expandiu-se pelo mundo, alcançando os continentes, nações e grupos populacionais. O senso de pertencer a uma Igreja com uma missão definida motivou os membros. Além disso, a própria organização pôde financiar o envio de missionários. Assim, em 1874 Jonh Andrews foi enviado a Europa. Assim como ele, outros também se tornaram missionários, estabelecendo a obra adventista em muitos lugares. No final do século XIX, o Adventismo já não era um movimento norte americano, pois já havia alcançado todos os continentes.[6] Dos 3.500 membros iniciais e 125 congregações em 1863, atualmente são 22.234.406 e 171.697 congregações, presentes em 212 países.
Como afirmou o pastor Jere Patzer, em seu livro Rumo ao Futuro, “Cristo deu origem a esta igreja profética inspirando sua teologia, que impulsiona sua missão, tornada possível por sua organização.”[7]
Crescimento institucional
Se foi difícil a Igreja expandir-se em termos de missão, seria praticamente impossível fazê-lo institucionalmente sem uma organização formal. As estatísticas atuais comprovam que a organização foi essencial nesse sentido: No total, são 13 divisões ou escritórios continentais da Associação Geral, 742 associações e missões, 60 editoras (com publicações em 467 línguas e dialetos); 9.589 unidades escolares (sendo 118 de Ensino Superior); 1.048 hospitais, clínicas, asilos e orfanatos; 22 indústrias alimentícias; 19 centros de produção de mídia (incluindo 80 canais produzindo em mais de 80 idiomas)[8].
A história registra que as instituições contribuíram decisivamente para a própria organização da Igreja. Foi a obra de publicações que tornou necessária a adoção de uma personalidade jurídica e a escolha de um nome para os adventistas do sétimo dia.[9] Estas e outras instituições favorecem a missão e ampliam a influência social do Adventismo. As diversas empresas, serviços e órgãos ligados à Igreja garantem a produção de recursos para seus membros, impactam a sociedade e ampliam sua rede de influência.
Manutenção da Unidade
Um dos maiores desafios da Igreja Adventista do Sétimo dia é manter a unidade, apesar de sua enorme diversidade. Assim como a Igreja Apostólica era liderada pelos apóstolos e centralizou suas decisões no concílio de Jerusalém para conservar a unidade doutrinária (veja Atos 15), a Igreja Adventista tem conseguido manter suas fileiras unidas, pois os membros tem respeitado a Associação Geral como órgão gestor global e as decisões emanadas do corpo geral de crentes, em suas assembleias.
“Assim como não pode haver um corpo humano vivo e ativo, a menos que seus membros estejam organicamente unidos e funcionando juntos, igualmente não haverá uma igreja viva, que cresça e prospere, a menos que seus membros estejam unidos em um corpo espiritual coeso, todos desempenhando seus deveres e funções outorgadas por Deus, sob a direção de uma autoridade divinamente constituída. Sem organização, nenhuma instituição ou movimento pode prosperar. Uma nação sem um governo organizado seria um caos. Uma entidade empresarial sem organização fracassaria. Uma igreja sem organização se desintegraria e pereceria.”[10]
Contribuição social e cultural
Elder Hosokawa, historiador e profundo conhecedor do Adventismo, escreveu um artigo com um "raio-x do desenvolvimento e relevância da denominação a partir de sua missão" [11]. Nessa síntese ele enumera várias contribuições adventistas a sociedade. "Um grande legado cultural para a sociedade contemporânea veio através de seus membros”. Ele cita a cultura musical; a medicina e alimentação integral, com sua ênfase no vegetarianismo e prevenção de doenças; a contribuição para a cultura da educação, da solidariedade e da responsabilidade social, especialmente através da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais); os adventistas na vida pública, como políticos adventistas que defendem a liberdade religiosa e promovem a educação em seus países; além de ativistas, pacifistas e defensores dos direitos humanos, como Desmond Doss, que salvou 75 soldados na 2ª Guerra mundial. Hosokawa ainda cita o legado literário dos adventistas, “outra característica global marcante na cultura religiosa mundial”. Sem uma organização seria bastante limitado as ações sociais da Igreja e sua influência cultural como um todo. Um exemplo que poderia ser dado é o Projeto Luzeiro, iniciado por Leo e Jessie Halliwell em 1931, que atenderam, gratuitamente, por meio da Missão Baixo Amazonas, 250 mil ribeirinhos.[12]
Considerações adicionais
O que aconteceria se a Igreja não tivesse se organizado? As opiniões são variadas. “Humanamente falando, a Igreja não sobreviveria sem uma estrutura organizacional”, avaliou Alberto R. Timm, diretor associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas (BRI) da sede mundial da Igreja[13]. É provável que ele esteja correto.
Segundo Ellen G. White, cofundadora da Igreja, a organização foi essencial desde o início, pois, “aumentando o nosso número, tornou-se evidente que sem alguma forma de organização, haveria grande confusão, e a obra não seria levada avante com êxito. A organização era indispensável para prover a manutenção do ministério, para levar a obra a novos campos, para proteger dos membros indignos tanto as igrejas como os pastores, para a conservação das propriedades da igreja, para a publicação da verdade pela imprensa, e para muitos outros fins.”[14]
Para o pastor Ted Wilson, presidente atual da Associação Geral: “Deus organizou a Igreja Adventista do Sétimo Dia para unidade, identidade e missão — para proclamar Suas três mensagens angélicas dos últimos dias a um mundo necessitado. É o movimento profético descrito no livro de Apocalipse, e Deus nos convida a avançar hoje em Seu chamado especial.”[15]
Ribamar Diniz é Mestre em Teologia pelo SALT/FADBA e Líder do Ministério Pessoal e Escola Sabatina da Missão Pará Amapá.
Referências:
[1] SCHWARZ, Richard W.; GREENLEAF, Floyd. 2 ed. Portadores de Luz: história da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Francisco A. Pontes. 2 ed. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016, p. 116. [2] Alberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas: Fatores integrativos no desenvolvimento das doutrinas adventistas, 6ª ed. Tradução: Arlete Inês Vicente. (Engenheiro Coelho, SP Unaspress, 2016), pg. 64. [3] Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas, p. 64 [4]George R. Knight, Em Busca de Identidade: o desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia. Tradução: José Barbosa da Silva, (Tatuí, são Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 210. [5] Outro exemplo que poderia ser dado foi o debate com Desmond Ford, em 1980, quando sua nova posição sobre o Santuário foi rejeitada pela denominação, resultando na publicação da série Darcom, além de outros estudos e publicações “relacionados a Daniel, Apocalipse, Levítico, Hebreus, o santuário, 1844 e o juízo investigativo” Glauber S. Araújo, Desmond Ford e a doutrina do Santuário: Análise comparativa de duas fases distintas. Revista Kerigma, Ano 3 - Número 1 - 1º. Semestre de 2007, p. 17. Disponível em: https://unasp.emnuvens.com.br/kerygma/article/view/281. Acesso em 21 de maio de 2023. [6] Veja Ribamar Diniz e Tecio Alves. Una breve historia de los 150 años de la Iglesia Adventista del Séptimo Día (1863-2013). Vinto, Cochabamba: Centro de Estudios Elena G. de White, 2013, p. 20. [7] Jere Patzer, em seu livro Rumo ao Futuro: Como liderar a Igreja no Século XXI (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2004). [8] Eduardo Teixeira, Expansão adventista, Disponível em: https://www.revistaadventista.com.br/da-redacao/destaques/expansao-adventista/. Acesso em 20 de maio de 2023. [9] SCHWARZ; GREENLEAF. Portadores de Luz, pg. 111-113. [10] Ver Manual da Igreja, 22ª ed. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 27. [11] Eder Hosokawa, “Igreja Adventista do Sétimo Dia: 160 anos depois”. Disponível em: https://noticias.adventistas.org/pt/igreja-adventista-do-setimo-dia-160-anos-depois/. Acesso em 20 de maio de 2023. [12]Hosokawa, “Igreja Adventista do Sétimo Dia: 160 anos depois”. Disponível em: https://noticias.adventistas.org/pt/igreja-adventista-do-setimo-dia-160-anos-depois/. Acesso em 20 de maio de 2023. [13] Rumo ao crescimento. Disponível em: https://noticias.adventistas.org/pt/rumo-ao-crescimento/. Acesso em 20 de maio de 2023. [14] Ellen g. White, Vida e Ensinos. Edição online. p. 195. [15] Recordando como Deus nos conduziu. Disponível em: https://noticias.adventistas.org/pt/recordando-como-deus-nos-conduziu/. Acesso em 20 de maio de 2023.
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