A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) recomenda o regime ovo-lácteo vegetariano[1], porém deixa a critério da consciência individual esse passo importante. Sugere que em suas instituições e eventos oficiais sejam servidos alimentos vegetarianos ou ovolactovegetarianos[2]. Também menciona o assunto em seu corpo doutrinário, exortando seus membros a “adotar a alimentação mais saudável possível e abster-nos dos alimentos imundos identificados nas Escrituras”[3], reconhecendo que a realidade de cada pessoa e o contexto onde vivem podem alterar grandemente o cardápio.
Ellen G. White também afirmou que “não tornemos o consumo de alimento carne um teste”[4], pois “não nos compete fazer uso da alimentação cárnea uma prova de comunhão”[5]. Em seus escritos, há indicações que o povo de DEUS no tempo do fim, a semelhança do antigo Israel no deserto, deve adotar um estilo de vida de estrita temperança, o que inclui o abandono progressivo da ingestão de carne, café, chá [preto], entre outros itens alimentares prejudicais a saúde [6].
Todos que decidiram viver a mensagem de saúde estão de parabéns. Muitos atrelam o regime vegetariano a vida no campo. Em relação a vida no campo, é uma excelente opção para melhorar a qualidade de vida, desde que a mudança ocorra com o devido preparo, não acarretando prejuízos para a família e a pregação do evangelho. O isolamento de alguns adventistas tem imitado os monges da idade média, que se retiravam para buscar a piedade, esquecendo que devemos ser “o sal da terra” e a “luz do mundo” (MT 5:13-14). Sobre a venda de carne, tanto na cidade como no campo, não vejo que seja uma negação da fé, por três razões:
1. A Bíblia proíbe a ingestão dos alimentos imundos. A venda de carnes limpas é mencionada nas Escrituras. O próprio Deus autorizou seu consumo após o dilúvio com algumas restrições (Gn 9:1-5).
2. A IASD mantém o princípio de que “não vendemos aquilo que não consumimos” (ver 1Coríntios 10:33). Isso inclui alimentos imundos, café, bebidas alcoólicas, fumo, jóias, etc., mas deixa os membros livres para ganhar a vida, conforme a sua consciência. Pessoalmente, penso que um membro pode vender carne e ser vegetariano, assim como um adventista pode ter uma farmácia, mesmo se tratando com remédios naturais. As pessoas que compram a carne ou os remédios, não tem a luz que temos e talvez não estejam dispostas a seguir nossos princípios.
Além do mais, o Espírito de Profecia não se posiciona sobre a comercialização de alimentos cárneos, embora chegue a lamentar o “sofrimento dos animais” no abate, como justificativa para o vegetarianismo[7]. Devemos, porém, lembrar que suas palavras são dirigidas aos adventistas em relação ao abandono da carne, não a sua comercialização. Em sua época, muitos membros da Igreja trabalhavam na pecuária e não consta que a profetiza tenha censurado os irmãos nessa questão. A menos que sua consciência individual o incomode ou esse trabalho cause algum escândalo aos irmãos, eu diria que você pode ir em frente.
3. Quando ingressamos na Igreja Adventista fazemos uma profissão de fé, nos comprometendo a não ingerir ou vender e distribuir bebidas alcoólicas, fumo, narcóticos e drogas (Voto batismal pergunta 10), porém não se menciona a venda de outros produtos como carnes. Isso demonstra que para os adventistas não há conflito entre sua fé, situação como membro e o ponto em discussão.
Para finalizar e oferecer mais informações recomendo a leitura dos livros Conselhos sobre o regime Alimentar (EGW), Vida no campo (EGW) e Da Cidade ao Campo (Artur White) e Ministério para as cidades (EGW).
Deus te abençoe e ilumine.
Ribamar Diniz é Mestre em Teologia (SALT/FADBA) e Mestre em História (UNIFAP).
Referências:
[1] Revista Adventista, janeiro de 2000, p. 37.
[2] https://www.adventistas.org/pt/saude/orientacoes-alimentos-instituicoes-programas-oficiais-igreja-adventista/.
[3] Crença Fundamental Conduta Cristã N. 22, Manual da Igreja, p. 174.
[4] Ellen G. White, Carta 48, 1902.
[5] Ellen G. White, Conselhos sobre o Regime Alimentar, p. 404.
[7i] White, A Ciência do Bom Viver, p. 314.
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