Pelo dia Nacional da Literatura
Esta geração já não lê. Pós-modernos assistem vídeos e ouvem podcasts. Homo sapiens tornou-se Homo virtualis. Pode converter-se em Homo stultus. A tecnologia matou muitos leitores. Também gerou novos legentes. Especialmente através do Kindle. Mas a disputa é desigual. Os jornais impressos sumiram. Revistas reduziram tiragens. Livros agora têm versões impressas e digitais. Se troca até a Bíblia física pelo celular! Essa realidade não deve mudar, mas piorar. Maior crime dessa geração? Desprezar os livros. Sepultar o saber. Orgulhar-se da burrice. Trocar uma enciclopédia por um vídeo de 30 segundos.
Certa vez, um professor me disse: “Você ama os livros”. Prefiro o termo paixão. Sentimento intenso, profundo e atraente. Livros me arrebatam. Isso começou há muito tempo. Mãe lia cordéis para mim. Lá no sítio, meu ouvido me ensinava. Aprendi a ler com dona Cícera. Professora dedicada, do Juazeiro. A Tabuada. A carta de ABC. Primeiras leituras. Quando era adolescente, li muitos quadrinhos. O incrível Hulk. O espetacular Homem Aranha. X-Men. Conan, o bárbaro. Groo, o errante. Demolidor, o homem sem medo. Algumas séries marcaram essa fase. Guerras Secretas. Wolverine. Ronin. Melhor que Netflix. O Flaviano, irmão velho, comprava estas séries. Sempre me emprestava. Também conseguia de colegas da escola. Eu não tinha dinheiro. Os trocados que mãe me dava, convertia em revistas. Colecionei 40 exemplares sobre o Hulk. Passei a desenhar quadrinhos. Criava histórias. Pena que não guardei nenhuma. O enredo era a luta marcial.
Na pré-adolescência insisti com mãe por um presente. A Bíblia Ilustrada da Família. Ela cedeu. Li com avidez. Cada história, e suas figuras no estilo bizantino. Cordéis, quadrinhos, Bíblia infantil. Até minhas histórias desenhadas. Tudo isso criou ardor pelo ler.
Quando estudei no Colégio Franciscanos, comecei a escrever um romance. Só algumas páginas. Seria um épico. Abandonei o projeto. O Ensino Médio estava chegando. Lá conheci a escritora Vilma Maciel. Ela me estimulou. Comprei seus livros. Participei de um concurso. Tirei segundo lugar. Minha poesia se perdeu. Quando o Lohan nasceu, extravasei a alegria. Escrevi uma poesia para ele. Também perdi esse texto. O livro é a melhor forma de arquivar pensamentos. Assim, podemos conservá-los. Assim, é possível avaliá-los, expandi-los, difundi-los. O pensamento humano chegou a nós, porque foi acumulado em livros. Essa geração está matando seu maior legado. Postar fotos e frases é publicar trechos da realidade e pedaços de ideias.
Aos 18 anos, eu estudei a Bíblia seriamente. Meu instrutor tinha uma biblioteca modesta. Aí nasceu minha paixão. Minha atração por livros e impressos. Devo isso aos adventistas. Na década de 1990, todo adventista tinha uma biblioteca. A minha tinha nome. Livroteca Espírito de Profecia. Fiz até um carimbo. Logo acumulei 500 exemplares. A Bíblia tornou-se minha referência. Os livros da CPB meu portfólio. Antes de virar seguidor de Jesus Cristo, me converti em discípulo de Bruce Lee. Pratiquei Kung Fú por um ano. Foi suficiente. Comprava tudo sobre o mestre. Livros, revistas, filmes, posters. Li suas biografias em português. Mas, logo, meu amor pelo Mestre prevaleceu. A Teologia, rainha das ciências, cativou meu interesse.
Na juventude, um momento decisivo. A leitura de O Sucesso é Fácil. Essa obra tem uma tese simples. Estabeleça três objetivos e cumpra-os. Aí está o segredo do sucesso. Fiz isso e comecei a crescer. Intelectual, espiritual e profissionalmente. Livro preferido? A Bíblia. Meu autor preferido? Ellen White. Seu melhor livro: O Desejado de todas as nações. Magnífico.
Aos 18 anos, virei vendedor de livros. Na Igreja chamavam de colportor. De 1996 a 2004. Andei pelas ruas de Juazeiro do Norte. Transcorri outras cidades. Crato, Caririaçu, Brejo Santo, Cajazeiras, Icó, Iguatu, Orós, Crateús, Teresina e Nova Russas. Encerrei minha carreira em Juazeiro. Foram oito anos. Atuava de porta em porta. Conversando e motivando a leitura. Vendia e lia meus livros. Fazia planos para publicar, também. Numa segunda fase, tornei-me vendedor internacional. Isso entre 2008 e 2013. Cruzei fronteiras. Partilhei conhecimento. Vendi livros na Bolívia, no Equador e no Chile. Entre 2008 e 2013. Também conheci o Brasil. Vendi livros no Pará, Rondônia, nos 2 Mato Grossos, no DF e Goiás.
Vender livros me transformou. Pelo acesso, contato e impacto. Minha paixão teve fases: leitura, distribuição, escrita, edição. Não temas. Exponha-se aos livros. Compre-os. Doe-os. Escreva-os. Visite bibliotecas. Livrarias. Editoras. Catálogos. Promova a leitura. A melhor maneira? Torne-se um leitor apaixonado.
Em 2002 escrevi um cordel. Título: A internet de Deus. Desde sempre, minha temática envolve a fé. O livro O Alicerce da Ação veio um ano depois. Ao ler Nossa Herança, me apaixonei pela história da Igreja. Passei a pesquisar a respeito. Em 2008 publiquei Conheça nossa história; em 2021 O Adventismo na Terra do Padre Cícero; em 2013 150 Años de Conducción Divina e em 2021 A Igreja das Águas. Também escrevi Cruzando a Fronteira. Pretendo publicar em breve. A paixão só cresceu. Da escrita passei à edição. Em 2012 editei Cuando Dios me Llamo. Em 2013 saiu o volume 2. Ao todo, já publiquei oito. Pretendo escrever 100.
Já li vários livros. Minha biblioteca cresceu. Certo dia, alguém perguntou, apontando as estantes: “Já leu todos?”. Claro que não, respondi. Sou adicto a livros. Sobretudo físicos. Compro muitos, leio alguns. Ver, folhear, sublinhar, comentar. Traz prazer, liberdade, alegria, segurança. Talvez eu seja professor, algum dia. Livros são irmãos, companheiros. País, superiores. Filhos, inesquecíveis. Um livro é um universo dentro de duas capas. É lareira que aquece o coração. Lente para enxergar longe. Pão que alimenta a alma. Grão que germina o bem. Hoje (01 de maio) é o dia da Literatura Brasileira. Quando eu era jovem, como Peri, li o Guarani. José de Alencar pinta, em sua obra, um paraíso. Fascinante. Exuberante. Deslumbrante, embora parcial. Como todo escrito. Um completa o outro. As veces descontrói. Mas nunca destrói. Cada livro é único. Cada leitor também. O livro só tem um senhor, seu leitor.
A literatura é o canal do avanço cultural de qualquer civilização. Leitores moldam sociedades. A nossa pode melhorar. Depende do contato com nossos mestres. José, Machado, Cecília, Carlos, Clarice, João, Graciliano, Mario, Gonçalves, Ariano… Leia os clássicos. Luis de Camões. Dante Alighieri. Miguel de Cervantes. John Bunyan. Além deles, leia os profetas. Romances mudam sentimentos. As Escrituras mudam o espírito. “O verbo se fez carne e habitou entre nós.” (João 1:14). A palavra humana tem sabor; a de Deus poder.
Tenho três paixões. Meu Deus. Minha família. Meus livros. Resisti à era atual. Sigo lendo, escrevendo, editando. Sonho escrever um best-seller. Livros geram sonhos. Antecipam realizações. Dizem que paixão é cega e passa. A minha já virou amor, pois só cresce. Sou um Homo liber.
Ribamar Diniz é pastor, escritor e editor.
Muito legal o texto. Parabéns. Deus o abençoe em seus sonhos em seus sonhos e objetivos.